Lágrima de preta



Lágrima de preta





Encontrei uma preta 

que estava a chorar, 
pedi-lhe uma lágrima 
para a analisar. 

Recolhi a lágrima 
com todo o cuidado 
num tubo de ensaio 
bem esterilizado. 

Olhei-a de um lado, 
do outro e de frente: 
tinha um ar de gota 
muito transparente. 

Mandei vir os ácidos, 
as bases e os sais, 
as drogas usadas 
em casos que tais. 

Ensaiei a frio, 
experimentei ao lume, 
de todas as vezes 
deu-me o que é costume: 

nem sinais de negro, 
nem vestígios de ódio. 
Água (quase tudo) 
e cloreto de sódio. 




António Gedeão


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